"Tudo começou pelo desejo do fim", ele me disse. "James apareceu em um momento da minha vida que não poderia ter sido mais ou menos preciso, isso para não dizer exato". Seria hipocrisia eu dizer que seus olhos marejavam, pois o choro desaguava, incessante, desde muito antes de minha primeira ligação. Talvez desde junho. Não qualquer mês de junho, mas daquele mês junho.
"Só que nos últimos tempos ele parecia farto de não compreender questões existenciais da vida, do universo e da sua própria imaginação, questões que nem mesmo podem ser compreendidas. Eu te dizer pode fazê-lo pensar que James não estava bem, mas era exatamente o contrário: ele parecia inabalável, mais presente do que nunca. Mas era como se... ele já não pertencesse mais a esse lugar". Ele dizia tudo num tom espontaneamente ensaiado, como quando alguém revisita tantas vezes os próprios pensamentos que ao verbalizá-los soa inexplicavelmente convicto de suas verdades. O que me fez questionar.
- Mas você e ele, vocês estavam bem? - pergunto mais com o olhar do que com palavras.
- Mas você e ele, vocês estavam bem? - pergunto mais com o olhar do que com palavras.
- A gente se amava muito, se é isso o que você está me perguntando. - ele, por sua vez, me respondia mais com silêncios do que com palavras. Assenti com a cabeça, indicando que os quase 20 segundos de pausa já eram suficientes para prosseguir.
"E James nunca disse que deixou de me amar. Nunca. Mas foi isso que eu pensei quando ele me deixou sem nunca nem mesmo olhar para trás, fosse para uma ligação, uma mensagem. Um 'estou bem' que fosse."
Em suas palavras eu podia sentir a mágoa represada de todos os aniversários de casamento, de todo dia dos namorados, e de cada novo ano de vida iniciado e não comemorado ao lado de James. Mas sentia também a eterna esperança muda dele regressar, já quase soterrada pelo tempo, mas que nunca iria deixar de existir.
As lágrimas escorriam por seu rosto gotas de chuva no vidro da janela em tarde chuvosa. Mas naquela tarde não chovia, muito pelo contrário: era verão, e o vento quente adentrava a pelas portas e janelas do sítio de seus pais onde ele passava as férias. Foi difícil convence-lo a me receber. Exatos 2 anos após minha última tentativa de contato, dessa vez por e-mail para soar menos invasivo do que as recentes ligações. Olhando naquele momento para seu rosto úmido, me perguntei se ele se arrependia de estar me recebido.
- Fique calmo, eu não estou arrependido de você ter vindo, se é o que está achando. Só estou chorando porque é bom lembrar.
Foram essas precisamente as palavras: "Só estou chorando porque é bom lembrar". Nem sei se fazem assim tanto sentido para você que lê agora, mas saiba também que naquele momento o sol coincidentemente brilhou mais forte, inundou a sala, tingiu as paredes e mobília, e aqueceu cada parte do meu corpo em que pode tocar. A luz semicerrou meus olhos, e de repente em meu rosto também escorriam lágrimas.
Tentei dizer algo, mas as palavras se embolaram. "Eu sei", Caio me disse. "Não se preocupe."
Naquele momento, eu soube que aquele seria o último depoimento que eu precisaria colher para encerrar esse livro. Nossos olhos se encontraram e havia um oceano de não dizeres. Peguei o gravador sobre a mesa e desliguei-o, pois eu entendia que o que estava para conversado ali deveria ser reproduzido apenas com com o coração e com a intuição.
"Eu também estava te esperando."
Em suas palavras eu podia sentir a mágoa represada de todos os aniversários de casamento, de todo dia dos namorados, e de cada novo ano de vida iniciado e não comemorado ao lado de James. Mas sentia também a eterna esperança muda dele regressar, já quase soterrada pelo tempo, mas que nunca iria deixar de existir.
As lágrimas escorriam por seu rosto gotas de chuva no vidro da janela em tarde chuvosa. Mas naquela tarde não chovia, muito pelo contrário: era verão, e o vento quente adentrava a pelas portas e janelas do sítio de seus pais onde ele passava as férias. Foi difícil convence-lo a me receber. Exatos 2 anos após minha última tentativa de contato, dessa vez por e-mail para soar menos invasivo do que as recentes ligações. Olhando naquele momento para seu rosto úmido, me perguntei se ele se arrependia de estar me recebido.
- Fique calmo, eu não estou arrependido de você ter vindo, se é o que está achando. Só estou chorando porque é bom lembrar.
Foram essas precisamente as palavras: "Só estou chorando porque é bom lembrar". Nem sei se fazem assim tanto sentido para você que lê agora, mas saiba também que naquele momento o sol coincidentemente brilhou mais forte, inundou a sala, tingiu as paredes e mobília, e aqueceu cada parte do meu corpo em que pode tocar. A luz semicerrou meus olhos, e de repente em meu rosto também escorriam lágrimas.
Tentei dizer algo, mas as palavras se embolaram. "Eu sei", Caio me disse. "Não se preocupe."
Naquele momento, eu soube que aquele seria o último depoimento que eu precisaria colher para encerrar esse livro. Nossos olhos se encontraram e havia um oceano de não dizeres. Peguei o gravador sobre a mesa e desliguei-o, pois eu entendia que o que estava para conversado ali deveria ser reproduzido apenas com com o coração e com a intuição.
"Eu também estava te esperando."